Antes de começarmos a falar sobre a relação com nossa saúde, vamos explicar alguns termos que você vai ouvir por ai…
Bioma é definido como uma comunidade que vive e evolui em um determinado habitat. Esse bioma pode ser composto de vegetais ou animais e no caso de micro-organismos são conhecidos como microbioma. Portanto, o microbioma pode abranger todos os seres microscópicos como vírus, bactérias, fungos e arqueobactérias bem como seus componentes genéticos.
Microbiota é um outro termo sinônimo para se referir aos micro-organismos encontrados em um determinado local. Estas populações estão distribuídas ao longo do seu corpo, desde a pele até entre a mucosa e na luz intestinal.
Devidamente apresentados aos termos…vamos seguir…
Por muitos anos na ciência o intestino foi um órgão negligenciado, mas a partir de 2006 um estudo mostrou que a microbiota intestinal estava relacionada com o desenvolvimento da obesidade em camundongos. No experimento, os pesquisadores, coletaram a microbiota intestinal de animais obesos e transferiram para animais magros. O resultado foi que os animais magros se tornaram obesos. Isso ocorreu sem alteração da dieta dos animais, somente mudando a microbiota intestinal.
Para confirmar os resultados anteriores, os pesquisadores resolveram testar o mesmo método de transferência de microbiota, agora em animais germ-free. Os animais germ-free são camundongos criados em laboratório, onde após o nascimento, passam a viver em um ambiente livre de patógenos, ou seja, ele é um animal considerado livres de quaisquer micro-organismos.
Como características esses animais são magros, não engordam diante de uma dieta rica em lipídeos (dieta hiperlipidica) e precisam consumir maior quantidade de alimentos para manter o peso normal, ou seja, são animais protegidos do desenvolvimento da obesidade. Porém, ao receberem a microbiota de um camundongo obeso, os germ-free tornaram-se obesos.
A partir destes resultados outros grupos de pesquisas pelo mundo começaram a questionar quão relevante seria o papel desses microrganismos para o organismo.
Você pode se perguntar: Mas só agora em meados dos anos 2000 é que perceberam a importância das bactérias?
Na verdade, os estudos relacionados a microbiologia intestinal começaram no século XIX, porém a maioria dos micro-organismos não sobrevivem fora do corpo, pois não toleram oxigênio. Então muitas espécies permaneceram desconhecidas até que técnicas avançadas de biologia molecular surgissem e possibilitassem a identificação da maioria dos micro-organismos que habitam a nossa microbiota intestinal.
Atualmente, estima-se que haja 1000 a 1500 espécies diferentes de bactérias e fungos habitando nosso organismo. A previsão é que esse número continue subindo com o avanço da ciência.
É importante salientar que não são apenas os micro-organismos dos intestinos que são importantes, mas sim todos os que habitam as variadas regiões do corpo humano. Esse conjunto é que nos tornam únicos!

FONTE: Follow Your Gut: The Enormous
Estudos mostram que somos compostos de aproximadamente de 100 trilhões de células microbianas e 10 trilhões de células humanas. Esses números se tornam ainda mais surpreendentes quando pensamos em termos genéticos. A maioria de nós, já ouviu falar que possuímos 99,99% do nosso DNA similar a outro humano, mas em termos microbiológicos esse número reduz para aproximadamente 10% de similaridade entre duas pessoas diferentes. Isso porque carregamos cerca de 20mil genes humanos diferentes em nosso corpo, porém também carregamos cerca de 2 a 20 milhões de genes microbianos.
Em um grande projeto conhecido como “Projeto Microbioma Humano”, centenas de cientistas se reuniram para mapear sequências de DNA e todos os microrganismos do corpo humano. O resultado mostrou que existem diferentes comunidades de bactérias e fungos para cada parte do corpo. Ou seja, sua microbiota oral é diferente da sua microbiota intestinal, que é diferente da sua microbiota cutânea e assim por diante.
Diante dessas descobertas já é possível começar a relacionar os nossos micróbios com algumas doenças como doenças metabólicas, inflamatórias e até outras mais especificas como o autismo, reumatismo e depressão.
PARA MELHOR COMPREENDER E ENRIQUECER SEUS CONHECIMENTOS
Vídeo : Rob Knight: How our microbes make us who we are
Vale ressaltar que só porque sabemos que determinado microrganismo esta relacionado com uma patologia especifica, isso não significa que se o eliminarmos estaremos livres de tal doença. Muito pelo contrário, talvez fazendo isto leve a prejuízos ainda maiores.
Referências
TURNBAUGH PJ, LEY RE, MAHOWALD MA, et al. An obesity-associated gut microbiome with increased capacity for energy harvest. Nature 2006; 444: 1027–1031.
ROB KNIGHT, BRENDAN BUHLER – Follow Your Gut: The Enormous Impact of Tiny Microbes (TED BOOKS) (Published 2015)
ALISON ABBOTT (2016). Scientists bust myth that our bodies have more bacteria than human cells Nature : 10.1038/nature.2016.19136
RON SENDER, SHAI FUCHS, & RON MILO (2015). Revised estimates for the number of human and bacteria cells in the body bioRxiv DOI: http://dx..org/10.1101/036103